Referenciado como Novo Rio Pinheiros, esse ícone da cidade de São Paulo passa por autêntico processo de ressurreição, com engajamento de comunidade

Entre a nascente, que se dá no encontro dos rios Guarapiranga e Jurubatuba e a foz, no Rio Tietê, são 25 quilômetros. O nome Rio Pinheiros foi dado pelos jesuítas, em 1560, por conta da grande quantidade de araucárias (ou pinheiros-do-brasil) que havia na região. Passados mais de 460 anos, iniciativa inédita e bem-sucedida vem ao encontro das melhores práticas socioambientais, em conformidade com os preceitos do ESG.

Desde 2019, Sabesp e Governo do Estado, sob a coordenação da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, desenvolvem ação de saneamento básico de grande envergadura, para reduzir o esgoto lançado nos afluentes do Rio Pinheiros. Meta é criar, até o final de 2022, as condições necessárias para a despoluição total e revitalização do entorno.

Obra em evolução

O projeto de despoluição e revitalização do Rio Pinheiro tem aceitação inconteste de especialistas e instituições de peso. No entanto, sabe-se que a recuperação total é tarefa, no mínimo, de médio prazo.

Dos 13 pontos de monitoramento, segundo o Governo de São Paulo, 11 apresentam a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) abaixo de 30 miligramas por litro. Essa é a quantidade mínima para que a água não tenha odor, melhore a turbidez e permita a vida aquática. Em 2019, a média no rio ficava entre 60 e 75 miligramas por litro.

Além do DBO, é necessário considerar a quantidade de oxigênio dissolvido e a carga de fósforo total. O oxigênio ainda está muito baixo e o fósforo muito alto. Trata-se de um projeto ambicioso, muito bem concebido, desenhado e posto em execução. Porém, considerando-se o histórico dos maus tratos ao Rio Pinheiros, a consolidação e aprimoramento do projeto deve se prolongar por mais alguns anos.

Cidadania e Qualidade de Vida

O projeto prevê a transformação das margens em um polo de lazer e entretenimento. Um grandioso parque linear, ao longo de um rio vivo, reflorestado e repovoado. A sujeira e o mau cheiro das águas, pouco a pouco, será página virada na cidade mais importante do país.

Outro aspecto relevante do projeto de despoluição do Rio Pinheiros é não transigir com o objetivo de levar mais qualidade de vida à população que vive na área da bacia hidrográfica. Mais que uma solução meramente estética e de reconciliação com a natureza, é fundamentado na ética. E nos pilares da justiça social.

O saneamento implantado nos bairros e comunidades torna muito mais dignas as condições de moradia, eleva a autoestima dos moradores e faz surgir, entre eles, o senso de defesa, preservação e respeito ao Novo Rio Pinheiros. Esse engajamento é essencial à consolidação e sucesso do projeto.

Resgatar a qualidade dos rios, notadamente nos trechos urbanos, ocorre no mundo todo. Afluentes localizados no estado do Texas (EUA), em cidades como Atlanta e Nova York (EUA), Liverpool (Inglaterra), Paris (França), Copenhague (Dinamarca) e Seul (Coreia do Sul) são exemplos.

Projeto replicável

No Brasil, a intervenção no Rio Pinheiros, planejada e consistente, pode ser o início de ações similares em outros núcleos urbanos. Em vez canalizar rios e condená-los à morte, como se fossem inimigos, é fundamental percebê-los como organismos vivos. Disciplinar a ocupação antrópica e protegê-los como patrimônio da coletividade.

Nos 25 km de extensão, o Rio Pinheiros recolhe águas de uma bacia de 271 km², em uma área onde vivem 3,3 milhões de pessoas. Segundo a Sabesp, objetivo é integrá-lo totalmente à cidade. Empresa já conectou quase 600 mil imóveis ao sistema de tratamento de esgoto.

Com isso, 1,6 milhão de pessoas passaram a ter o esgoto encaminhado para tratamento, na Região Metropolitana de São Paulo. Nos últimos dois anos, foram retiradas mais de 70 mil toneladas de material descartado no Rio Pinheiros. Até o final do ano, os 25 córregos ligados ao curso  estarão   limpos,  livres  de  esgotos  poluidores. Infelizmente, a Usina Pedreira, logo após a represa Billings, e o Cebolão, encontro dos rios Pinheiros e Tietê, ainda são os locais onde a água permanece muito poluída.

Cartão-postal

Uma vez despoluído e livre dos efluentes despejados pelos afluentes da bacia, no seu todo, o Novo Rio Pinheiros vi se tornar um dos cartões-postais da mais alta relevância para a cidade  de  São  Paulo. A ocupação planejada, dotada de infraestrutura e funcionamento de serviços de boa qualidade, tornará o espaço não só atrativo como área de lazer, mas também acessível e seguro.

Resgatar e preservar as condições que havia até os anos 20, quando se pescava e praticava-se natação nas suas águas.  Naquele tempo, na fase pré-explosão urbana da cidade, muitos clubes sociais surgiram ao longo do rio. E agora, renasce a perspectiva real de devolvê-lo à população local e atrair visitantes do Brasil todo e do mundo.

Investimentos

As obras de revitalização da Usina São Paulo, antiga Usina da Traição, conta com investimentos próximos a R$ 1 bilhão da iniciativa privada. Quando estiver pronto, o empreendimento deve funcionar 24 horas por dia.  A modernização do espaço prevê a implantação de restaurantes, lojas nacionais e internacionais, cinema ao ar livre, escritórios, rooftop com cafés e bares, mirante, academia e outras atrações.

Uma roda-gigante com 90 metros de altura deve ser instalada no Parque Cândido Portinari, na Zona Oeste de São Paulo. A estrutura deve ser a maior do gênero em toda a América Latina e também faz parte das ações de revitalização do entorno do Rio Pinheiros.

Atores institucionais

O programa estadual de despoluição do Rio Pinheiros é coordenado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. Conta com a participação das empresas Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE) e Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). Acrescente-se Prefeitura de São Paulo e apoio do Desenvolve SP.

Por meio de um esforço concentrado, as margens do Rio Pinheiros transformaram-se em um imenso canteiro de obras. Máquinas de grande porte, caminhões e equipamentos específicos movimentam-se o tempo todo. Um trabalho gigantesco, para recuperar e devolver a São Paulo um dos símbolos da sua grandiosidade.

Luta sem trégua

Quem usa a ciclovia do Rio Pinheiros diz que o cheiro ainda é forte. Mas já foi muito pior. Quanto menos esgoto no rio, menos mau cheiro. Até agora, 649 mil imóveis estão conectados à rede coletora. O material pode percorrer dois caminhos, que variam conforme a região.

Onde as moradias são regulares, esgoto sai das casas e vai direto para um coletor subterrâneo, que leva o material à estação de tratamento. Já em locais irregulares, onde a ocupação não deixou espaço para a implantação do coletor, o esgoto sai das casas, é lançado direto em um córrego e desviado para uma Unidade Recuperadora. A água tratada, mais adiante, desagua no rio.

O esgoto lançado entra numa tubulação subterrânea e percorre 32 quilômetros até a estação de tratamento em Barueri, onde é tratado antes de ser lançado no Pinheiros. Desde 2019, a Sabesp já implantou 277 km de novas tubulações coletoras de esgoto.

Antes da iniciativa, chegavam ao Rio Pinheiros 2800 litros por segundo de carga orgânica. Hoje, apenas 500 litros por segundo, provenientes de áreas irregulares que não receberam a ligação porta a porta, seja por questão física ou legal.

 

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